terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Salve Minha vida


Mais uma vez ela se vê na bifurcação entre o desejo incontrolável e a saciedade momentânea. Ela sabe exatamente onde vai dar isso. Não é a primeira vez que ela tenta parar. Mas dessa vez é diferente, dessa vez ela realmente quer, por ela, por ele. Deve realmente ser frustrante ver todas as promessas se tornando toxinas e entorpecendo sua mente.
Depois de ter escalado o poço por tantas vezes e sempre cair d novo, provando a si própria que é extremamente fraca e imbecil, só resta fazer o que sempre faz, chorar... Então num rompante surpreendente, quando a fumaça e o cheiro se dissipam no ar e seu cérebro a começa(mais rápido que da outra vez, diga-se de passagem) a recobrar sua consciência perfeita, ela toma coragem e caminha até o telefone e liga pra ele, contando que tivera mais uma recaída.
Na outra ponta da linha ela nem imagina que cara ele tenha feito, mas o silêncio que fatidicamente pairou após ele ficar sabendo da noticia... Ela o chama, e nada. Faz isso algumas vezes ate que o silêncio se desfaz com um fungado de choro e um suspiro nitidamente de desapontamento... Então num ato desesperado ela abre a boca, sua face exprime tanta dor que me parece que sua saliva é ácido sulfúrico, de sua garganta ecoa um pedido junto a lagrimas e imagens que rondam sua memória, então ela brada: SALVE MINHA VIDA. E como resposta, o tom de ocupado.
Nunca em toda sua existência se sentira tão sozinha. Nem em suas turvas noites de abstinência, nem mesmo quando fora internada com overdose pela primeira vez... Ela para e pondera o seu valor, se vale a pena tentar viver ou se a saída de emergência daria mais paz a ela e seus entes. Vai ate a geladeira, bebe água e vê o que pode comer. Desiste de rasgar os pulsos, ela não teria coragem. Se olha no espelho do banheiro e pergunta como chegou a esse ponto, como pode se entregar... Milhões de questionamentos passam pela sua cabeça, porem o que mais lhe aflige é o tom de ocupado do telefone, mas ela não poderia culpá-lo. Depois de tantas tentativas e tantas recaídas é natural que ele tenha desistido dela.
A solidão dessa vez aperta mais o coração da pobre moça, como vai ser sem ele? As lagrimas jorram. A campainha toca! Quem poderia ser essa hora? Ela faz força pra não ir atender, afinal ela esta um trapo, por dentro e por fora. Porem o visitante é insistente e aperta varias vezes, e bate com força... Então ela seca o rosto amarra os cabelos desgrenhados e vai em direção a porta. Abre. É ele... ela receia em abraçá-lo, porem, antes que qualquer atitude pudesse ser tomada, ele põe as mãos sobre os ombros dela e simplesmente diz: - Dessa vez você consegue... 

2 comentários:

  1. Bravo,bravíssimo!!!Vc não tem noção de como as imagens iam passando em minha mente a cada palavra que eu lia. Ah!! Eu já sabia o final,o que não quer dizer que eu já sabia a frase que ele usaria mas eu tinha certeza que ele aparecia,que ele compareceria, pois amor que é amor te faz levantar e ir ao encontro do ser amado mesmo que ele esteja fraco, esteja errado,por você este não será abandonado.
    Amei!!Lindo demais.Parabéns cúmplice.

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